jueves, 17 de julio de 2008

Mulher Vaca (II)

A mulher vaca é, talvez, o elemento espiritual mais importante da cultura das tribus indígenas do interior selvático. Dentro das crenças de uma religião que adora a natureza, idolatra os animais e reza ao Sol e à chuva, a vaca converte-se em símbolo de prosperidade, riqueza, amor e tranquilidade. As vacas não são adoradas tal como na Índia, mas igualmente gozam de privilégios no acto de serem alimentadas e cuidadas, são idolatradas e sacrificadas em datas chave para honrar aos deuses, para pedir a chuva ou em honra das festas da “comida de iniciação”.

Para os indígenas a mulher é o elemento mais importante da família, pois é ela que tem o poder criativo aplicado à terra, cuidando da família e educando o próximo no seio das suas comunidades. Como tal, o homem deve sempre cuidar e honrar a mulher da melhor maneira possível fornecendo-lhe alimentos, segurança e amor ao núcleo familiar.

As pessoas comentam que, quando numa família feliz morre a mulher, esta converte-se em mulher vaca, o espírito idolatrado que tem a função de iniciar os mais jovens no caminho da maturidade.

Quando um jovem cumpre a idade de 16 anos, para os restantes elementos da tribo, está em condições de demonstrar que é capaz da sua transformação e salto à idade adulta. Para tal, a sua mãe cozinha carne de vaca e leite, substratos de uma grande comemoração num churrasco familiar ao qual se junta a comunidade mais próxima ao redor desse jovem. Depois de três dias de comemoração à volta da mesa, o jovem parte ao pôr do Sol para a montanha. Percorre cidades, planícies sem gente, dunas debaixo de Sol, convive com outros povos e animais até chegar à montanha onde deverá finalmente enfrentar-se diante da solidão e dos ensinamentos da grande Natureza.

Dizem que quando a Natureza julga que o jovem se encontra preparado envia uma mulher vaca ao seu encontro. Ela chegará pela noite durante o seu sono, segura-lhe na mão e leva-o a passear. Conversam, sobre o grande olhar das estrelas, de respeito, igualdade, humildade, fraternidade e liberdade. Mostra-lhe que no grande manto do céu existem simbolos cada um com a função de o recordar e lembrar durante a sua vida, dos grandes ensinamentos pelos quais passou. Ao regressarem ao local onde descansava, ela segreda-lhe ao ouvido os segredos para a prosperidade, o caminho para a busca de uma companheira e a chave para a felicidade compartida no seio de uma união sem tabús, sem agressividade, com amor e imaginação.

No dia seguinte, ao acordar, o jovem e menino converte-se em homem. Acordado de um sonho profundo, daqueles em que perde a noção da sua ou não realidade, sentirá força e segurança em si mesmo. O agora homem sentirá em si a calma e a paz para decisões importantes, e sentirá que é o momento de iniciar o seu caminho de volta a casa e ao seio familiar e dai à constituição da sua própria família.

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